sábado, 24 de setembro de 2011

Sobre a (in)dependência




‎"Todo mundo tem direito ao seu caminho, só não passe para outro a responsabilidade de te fazer caminhar."


Então, é isso. Bem isso. Me identifiquei com a frase de uma maneira absurda. Ela resume muito do que tem sido a atração principal dos meus pensamentos, ultimamente: brincar sem hora marcada com essas tais "independência" e "responsabilidade".
Daí do meio disso tudo eu descobri que a gente tem mais responsabilidade do que um dia imaginou. Responsabilidade pelos sentimentos que nutrimos, pelos acontecimentos incríveis, e também os terríveis. Temos responsabilidade pelas pessoas que nos cercam, pelas palavras que escutamos e pelos dias bons e ruins. E digo mais: somos os principais responsáveis por como nossa vida se encontra hoje! Ok, não quero parecer uma radical, porque de fato não é isso. Eu sei que existem situações e acontecimentos que fogem do nosso controle, que simplesmente ocorrem. Alguém morre, você leva um fora, a segunda-feira amanhece com chuva, te escalam para trabalhar no feriado. É assim, acontece, e você não tem que ficar tentando encontrar uma explicação pra isso. Ponto final.
Do que falo aqui é do nosso (lindo e maravilhoso) poder de escolha."Todo mundo tem direito ao seu caminho", e o seu caminho é único e exclusivamente regido por você, sabia? Dizer sim ou não, escolher ficar ou ir embora, decidir falar ou calar, repudiar ou aproximar. Tudo isso é poder de escolha, e eu sou da opinião que todo mundo deveria saber usar melhor essa bichinha! Ninguém é obrigado a aceitar um trabalho no qual não se sinta bem. Nenhuma pessoa é forçada a ter em sua volta pessoas que não são do seu agrado. Todo mundo pode optar por ir embora e escolher outra coisa bem mais bonita pra si. Muitas vezes não é fácil (na verdade, é quase sempre bem difícil), e é justamente por isso que a palavra "independência" sempre vem acompanhada de "responsabilidade".

Não reclame que você convive com gente fútil, se você mesmo os deixou estarem ali. Não diga que seu dia está terrível, se você não moveu uma palha para melhora-lo. Não ostente para deus e o mundo que sua vida está na pior, quando você mesmo deixou passar todas as oportunidades para mudar isso. Os atos mais sutís e aparentemente sem importância, regem o rumo da vida. Preste atenção aonde você mesmo se leva!



sábado, 3 de setembro de 2011

O dia

Existe um dia especial. Aquele dia que não propriamente mudou a sua vida, mas aquele em que você percebeu com todas as partezinhas do corpo que algo mudou. E que mudou mesmo, que não tem mais volta. Não pela falta de flexibilidade (que é importante), ou por algum evento único e forte (que te obriga a adaptar-se ou morrer), mas sim pela incompatibilidade do que ficou lá com o que está aqui.

segunda-feira, 1 de agosto de 2011

Cotidiano

Não viva esperando a sexta-feira chegar. Não queria o amanhã antes de hoje. Um dia o exato instante pode lhe fazer falta, e então te lembrarás que o que pensavas ser ruim hoje, na verdade, é só uma má interpretação. Ame o segundo, aproveite o que te cerca. Mas aproveite mesmo. Perceba com carinho, olhe com ganas a paisagem que te rodeia, e faça tudo isso por mais estranha que ela pareça.

A vida é muito mais criativa do que pensas tu.


domingo, 8 de maio de 2011

Assim me descobri.

Mais importante que saber a hora certa de se aproximar, arregaçar as mangas e abrir a porta da sala para algo novo, é saber identificar o momento que pede por uma despedida, por um largar as malas no chão, dar meia volta, e ir embora. E digo que me descobri sendo assim: tchau, bye bye, hasta la vista, a saída é por ali, cai fora. Agora é assim. Sem mais necessidades de explicações, sem mais auto-boicotes que perpetuam o instante já fadado a algo que não pertence a você, que não combina mais com o seu sorriso. Então não tenha vergonha e nem medo de parecer egoísta.

Pegue suas coisas, abandone o barco e nade com seus próprios braços.

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quarta-feira, 13 de abril de 2011

Marrocos, fantástico!


O Marrocos é uma lugar incrível. Já tinha ido à Casablanca alguns anos atrás com meus avós queridos, e deu pra ter uma ideia de como as coisas funcionam por lá. Mas como na ocasião estávamos fazendo um cruzeiro, a parada em cada lugar é bastante breve para o infinito de coisas que o Marrocos, especialmente, reserva. Desta vez o destino foi Marrakech, centro religioso e cultural do país. Fui com a Karla e a Marcela, amigas e brasileiras que vivem aqui em Barcelona, assim como eu.
Marrakech fica a somente duas horas do vôo de Barcelona, e isso é um pouco desconcertante, porque o curto espaço geográfico entre as duas cidades é inversamente proporcional à diferença cultural entre elas. Sair de uma centro moderno e organizado de uma certa maneira, como é Barcelona, e apenas duas horas depois estar em um lugar como o Marrocos, é uma legítima pancada na cabeça. Assim que chegamos, pegamos um ônibus do aeroporto até o centro de Marrakech, que custou 20 dirhams (= 2 euros), e descemos na entrada da praça Jemaa el-Fna. Às vezes acho que Deus ajuda os viajantes que descem de para-quedas em lugares que não conhecem e não sabem falar a língua local, porque são nessas situações, que tem tudo pra dar errado, pra nos perdermos, pra pararmos na parada errada que... tudo dá certo. Ok, só um comentário, voltando! Esta praça é muito famosa no Marrocos inteiro, e quem já esteve por lá sabe por que. É um lugar onde se entra e pensa “gente, tô no Marrocos!”. A praça, que é muito grande, abriga fenômenos excêntricos aos olhos ocidentais: mercado com comidas típicas expostas, infinitas barracas de suco de laranja (que por sinal, o melhor que já tomei em toda vida), encantadores de serpentes, macacos e seus donos, rodas de músicas típicas, dançarinos, crianças vendendo artesanatos, etc. As mulheres de burca e os homens de túnica impressionam na primeira vista, mas depois deixam de chamar tanto a atenção. O trânsito é algo excepcional: as motocicletas aparecem de todos os lado, em grande quantidade, e é uma loucura! São charretes para turistas, as tais motocicletas e até carros e vans passando pelos mesmos lugares onde pedestres caminham. Nem pense em andar com fones de ouvidos, pois o resultado pode não ser muito bom. Sinceramente, tive que me esforçar muito para não ser atropelada. Tem que estar atenta o tempo todo, e quando ouvir as buzinas, sair do caminho, porque não tem muito o que fazer.
Tivemos que pedir ajuda para chegar até o hostel, que era no estilo do que eles chamam de “Riad”. São aquelas construções que tem um pátio interno, e são realmente muito bonitos, como os do “O Clone” hihi! Na verdade, descobrimos que o hostel estava mais para Hotel do que qualquer outra coisa, pois ficamos em um quarto só para nós e com b-a-n=h-e-i-r-o p-r-ó-p-r-i-o. Acreditem, isso é incrível!
O centro comercial de Marrakech são os chamados “Zocos”. Labirintos de tendas e mais tendas, com os mais variados produtos da cultura local. Bolsas de couro coloridas, sapatilhas, calças, tecidos, caixinhas e objetos de madeira, lenços de todas as cores e tecidos, luminárias maravilhosas, peças de porcelana, e por aí vai. Vontade não faltou de comprar todas aquelas coisas diferentes e que só tem por lá mesmo, mas os limites da bagagem de mão da Ryanair dão um banho de água fria e colocam um freio no ímpeto consumista.
Como todos mais ou menos sabem, e que eu particularmente achei muito interessante, é que tudo, absolutamente tudo em Marrakech o preço pode ser negociado. Pechinchar é a palavra. Às vezes é divertido, e às vezes cansativo, pois uma negociação pode durar muito tempo, quando a vontade é só chegar e perguntar o preço para se ter uma ideia. Aconteceu um dia de eu ir embora da loja, pois o preço que o vendedor queria eu não estava disposta a pagar, e quando quase virei a esquina, ele gritou :“Ok, ok! Ya está!”. Levei a bolsa de 60 por 15 euros! E é assim, tem que se estar disposta a conversar, perguntar, negar, ser irônica, entrar no jogo. No início estava um pouco receosa com essa aproximação toda, que além de ser pouco comum, é potencializada pelo pré-conceito que temos com o povo muçulmano. Todos os pais aprovam (e com muito gosto) uma viagem de seus filhos para França ou Alemanha, mas África, e ainda por cima Marrocos?!? “É perigoso, são rígidos, os homens não respeitam, a cultura é impossível...” As falsas crenças estão por toda parte.
O que posso dizer a partir da minha experiência foi que vi um povo muito orgulhoso de ser quem é, e preocupado em desmistificar esta pré-impressão dos turistas. Fiz contato com gente interessante e bonita, que viveu uma vida completamente diferente da minha até aqui, e que exatamente por isso tem muito pra ensinar. Gente que acredita que um dia se libertarão do totalitarismo francês e assim poderão executar as leis políticas como pensam ser correto. Gente feliz, que gosta de fazer o que faz, que tem o dom do comércio. É claro que não é um conto de fadas, e que sem dúvidas é necessário ter cuidado, prudência, atenção e não ser ingênuo (o que eu penso que deveria ser inato em qualquer viajante, e não só para os que vão ao Marrocos). Os traços físicos diferentes chamam a atenção, sim, mas nada que qualquer mulher já não tenha escutado no centro de Porto Alegre.
O que acontece é que sempre me parece muito difícil, ou até errado, essa coisa de tentar classificar e generalizar as características de um povo, sejam elas boas ou ruins. Nunca concordei com as atribuições que frequentemente fazem ao povo brasileiro, como “trabalhador, receptivo, divertido” ou “corrupto, folgado, preguiçoso”, como se fosse realmente impossível as duas coisas coexistirem. Conheço gente com todas as características citadas, o que me faz pensar que, se veridicamente existem, os pontos em comum de uma população vão bem mais além que simples características de personalidade.

Noite no deserto

Tive que botar este assunto à parte, porque foi uma experiência muito, mas muito legal mesmo. Quem for a Marrakech não pode deixar de faze-lo.
Saí do centro de Marrakech às 7h, em uma Van com cerca de 12 pessoas. Um grupo muito legal, todos falavam espanhol. Se viaja o dia todo, e as paisagens são simplesmente deslumbrantes. Montanhas e mais montanhas de um terra seca, quase branca, muito estranha aos meus olhos. Nunca tinha visto. Passei pelo meio de povoados muito pequenos e tradicionais da cultura islâmica, quase que intocados pela globalização. Quando paramos em um destes para tirar fotos, muitas crianças vieram na nossa direção pedir canetas, pois elas não existem por lá. As casas são horizontalizadas, todas na cor laranja-tijolo, e o clima sempre muito seco.
Depois de muitas paradas e horas de estrada, chegamos ao nosso destino pela 18h, 19h. Os camelos estavam sob os cuidados de três homens jovens nativos, que estavam a nossa espera. Estes são homens que vivem suas vidas no deserto, cuidando dos animais, acordando cedo, e sabem muito sobre esse mundo tão diferente do meu. Enfim, o que posso dizer é que quase uma hora e meia em cima dos camelos bastaram para eu não sentir meu lindo traseiro. São bichinhos muito bonitos e queridos, mas realmente muito desconfortáveis com seu “balançado” ao caminhar.
Nosso acampamento já estava montado quando chegamos. Jantamos Tagine de frango com legumes e chá, em mesas baixinhas e sentados em perna-de-índio! Mais tarde, os meninos marroquinos cantaram e tocaram músicas locais em volta da fogueira, e foi realmente muito especial esse momento. Estar no meio da noite em pleno deserto, ouvindo tambores e com céu mais estrelado e bonito que eu já vi nestes 20 anos de existência, é uma experiência inacreditável.
Há quem diga que a cama era dura, que passou frio, ou ouviu passos durante a noite e ficou com medo. Eu deitei e capotei no mais profundo de mim, como não dormia há muito tempo.











segunda-feira, 28 de fevereiro de 2011

A cultura de possibilitar cultura

Barcelona é uma cidade com muitos meios para a diversão, para todos os gostos. Todos os dias da semana existem festas e atividades noturnas para se escolher. São bares, teatros, cinemas e por aí vai. É claro que não estou nem perto de conhecer tudo, e acredito que em apenas um ano também não, mas vou me esforçando (fazer o que?)!
Quem me conhece mais de pertinho sabe da afeição que tenho pela dança clássica e linhas afins, e para quem compartilha desse meu gosto, dou a dica: a Europa é um excelente lugar para desfrutar isso!
Em pouco tempo já deu pra perceber que por aqui as temporadas dos espetáculos passam com frequência, além de terem um preço bastante acessível. Existem muitos teatros, dos clássicos e imponentes aos modernos e aconchegantes, e todos sempre em atividade, movimentando a vida cultural da cidade. Fiquei feliz ao constatar esse ponto, pois esta é uma das coisas que mais me incomoda em morar no Brasil: raramente alguma companhia internacional de dança (ou de qualquer outra coisa) vai para lá, e quando vai, é caríssimo! Como estimular o interesse cultural na população se isso é tão inviável e tão distante da realidade dela?
Confesso que essa diferença tem me deixado realmente eufórica por aqui, com vontade de ir em tudo, mas... é necessário fazer escolhas!
Na quarta feira passada fui em um espetáculo de ballet chamado Coppelia, da companhia Victor Ullate Ballet - Comunidad de Madrid. Coppelia é o que chamamos de “ballet de repertório”, que quer dizer que é um espetáculo considerado “universal”, com uma trilha sonora e coreografia já pré-definidas. Toda e qualquer companhia pode remonta-la, e geralmente terá os mesmos passos e mesmas nuances. O espetáculo conta a história de Swanilda, a jovem mais bonita da aldeia de Cracóvia (Polonia), noiva de Franz. Entretanto, Franz apaixona-se por uma menina, Coppelia, que fica o dia todo sentada e lendo na janela da loja do Doutor Coppelius, um senhor que fabrica brinquedos. Swanilda e suas amigas resolvem entrar na casa para descobrir quem é essa menina que tirou seu posto de mais bonita da cidade, e levam um susto ao descobrirem que Coppelia. na verdade, é uma boneca com formas perfeita. A partir daí, muitas coisas se desenvolvem na história, que é apresentada em III atos.
A companhia em questão que fui assistir montou uma versão bem diferente para o ballet, onde a loja de brinquedos do Doutor Coppelius tornou-se um laboratório cibernético, especializado em robótica e inteligência artificial, e Coppelia passou a ser um robô. Muitos gran jetés, tutus e pontas seguraram a caráter clássico da obra, mas os tantos quadris desencaixados e flex no pé a ofereceram um ar contemporêneo e moderno. Gostei muito! A nova versão, apesar de menos clássica, em momento algum deu lugar para o baixo nível técnico, bem pelo contrário. Babei em muitas piruetas e devéloppés..
Também não pude deixar de ter um pequeno momento nostálgico, pois já dancei este ballet na minha ex-escola de dança, e foi um período muito bom da vida! Apesar da versão ter sido completamente diferente, como comentei, o repertório musical é igual, o que faz com que em alguns segundos todas as lembranças da época passeiem pela cabeça.

Na platéia do teatro, pessoas de todas as idades, homens e mulheres, em geral bem arrumados. Achei engraçado que, até mesmo em um ballet, é impossível esquecer o fato de que estamos entre espanhóis. Homens e mulheres tem aquele jeitão forte, de falar alto, que por vezes ficamos em dúvida se estão brigando ou conversando. Me chamou a atenção que não há vergonha nenhuma em encontrar um conhecido filas e filas acima de onde se está sentado, e mesmo assim virar pra trás e conversar aos berros ou rir super alto. Cultura não se discute!

Fotos do espetáculo:












E aqui, um vídeo com reportagem sobre o espetáculo. Vale a pena assistir!




Besitos!